
ENCONTRAR A SOLIDEZ
"Encontrar a solidez" reúne artistas que exploram as possibilidades materiais da arte contemporânea, subvertendo os limites da pintura tradicional e expandindo suas manifestações para suportes diversos. A curadoria de Bruna Costa destaca obras que dialogam com elementos pictóricos — como cor, textura, brilho e figuração — em uma tensão entre imagem e matéria. Os trabalhos revelam uma corporalidade sensível e uma abordagem experimental, onde o lúdico e o equilíbrio de forças se tornam parte do processo criativo. A exposição propõe uma caminhada tátil e visual pelo terreno heterogêneo da arte, convidando o público a experimentar com todos os sentidos.
DE 03.Set.2025 A 11.Out.2025
ENCONTRAR A SOLIDEZ
Bruna Costa
Almeida da Silva, Ana Freitas, Ana Hortides, Bento Ben Leite, Brenda Cantanhede, Hildebranda, Ju Morais, Juca Rivera, Liane Roditi, Mayara Velozo, Murillo Marques
Investigar as possibilidades materiais da obra de arte tem sido motor da história da arte contemporânea há mais de meio século. Geração após geração, essa inquietação se renova e inventa mais problemas a serem encarados, reelaborados, resolvidos (ou não). As qualidades estéticas que perturbam os artistas há séculos continuam se fazendo importantes numa arte que não seja conceitual, mas visual ou material.
Os trabalhos se destacam por uma corporalidade inerente às soluções plásticas apresentadas. Existe aqui uma lembrança das qualidades pictóricas: desenho, cor, brilho, textura, transparência, moldura, figuração-abstração e até pincelada. A pintura, porém, é subvertida para suportes e manifestações outras, numa pulsação entre força centrípeta e força centrífuga. Em 2005, ao analisar a obra da artista Suzana Queiroga, o crítico Paulo Sergio Duarte afirma que a pintura na contemporaneidade exerce uma força centrípeta para a própria linguagem. Diferentemente do campo ampliado da escultura (conceito elaborado por Rosalind Krauss em 1979), o qual exerce uma força centrífuga do suporte escultórico convencional, o campo pictórico segue exercendo uma força de atração para si, cujo centro-densidade reside na questão da cor. Não se trata da revisão dos meios como proposto pela modernidade ocidental, mas de uma tentativa de aproximar a pintura da própria vida, da experiência de mundo, como apontado também por Hélio Oiticica décadas antes.
Existe também uma relação de ida e vinda entre imagem e matéria. Enquanto alguns parecem algo mais ligados à imagética, como Bento Ben Leite e Murillo Marques, ao mesmo tempo brincam com as superfícies dos suportes, com a tinta e com a textura. A leve indicação de temática passa o olhar às obras de Ana Hortides e Brenda Cantanhede, que por coincidência do afeto-casa exprimem o jogo com suas materialidades, seja dura e pesada (na primeira), seja delicada e precária (na segunda), mas ambas populares. Nessa delicadeza doméstica, os materiais dos planos de demolição compostos na peça quase pictórica de Ju Morais encontram a força da costura, também presente em Hildebranda, adicionando o dado do acabamento refinado da linha dourada e da tinta natural. A linha, dado matemático abstrato apontado desde Lygia Clark, materializado apenas pela mente, encontra o circuito de Ana Freitas, que constrói uma pintura singular sobre suporte singular; outras particularidades se encontram nas pinturas moles de Mayara Velozo e Almeida da Silva, uma em tecido e a outra com suporte plástico, flexível, como se a tinta se desprendesse do chassi e flutuasse - a mesma flutuação que permeia em João Rivera, com seus móbiles coloridos. A única figura humana presente é a no vídeo de Liane Roditi, cuja pintura se confunde com dados sociais e simbólicos, além da história da arte, com um gesto que aponta a Cildo Meireles.
Os artistas estão aqui não apenas tateando o sólido da pintura matérica, mas também terreno de caminhada, como quem calcula onde firmar o pé enquanto se lança livremente. Experimentar é uma das características de quem está ao mesmo tempo consciente, mas também leve de acúmulos que possam pesar a caminhada. Há espaço para o lúdico, para a brincadeira, e também para o equilíbrio de forças que atuam sobre esse terreno heterogêneo que é a atuação artística. Vamos tatear com todos os sentidos.
Bruna Costa
Ficha técnica
Curadoria e texto: Bruna Costa
Expografia: Desirée Vacques
Revisão de texto: Gustavo Gomes
Montagem: João Rivera
Hildebranda
Gestos de Conciliação III
, 2023
Tinta de terra, queimadura e bordado sobre tecido | 45 x 31 cm (cada)
Murillo Marques
Série 150
, 2024
Hidrocor e acrílica sobre lixa para massa/madeira | 22,5 x 27,5 cm (cada) | 55 x 45 cm (conjunto)
Ana Hortides
Raio, série Platibanda
, 2025
Concreto e cerâmica | 70 x 70 x 7 cm
Ana Freitas
Circuito
, 2025
Tinta sobre polímero | 98 x 77 cm
Liane Roditi
Desvio
, 2022
Vídeo HD em 16:9 - Edição: 1:5 | 4' 55''
Bento Ben Leite
Annabelle, série Este doce mal
, 2022
Acrílica e óleo sobre tela | 70 x 70 cm
Mayara
Co-construções de um Imaginário Possível de Sentir
, 2020-21
Costura em tecido de estofaria | 210 x 220 cm
Almeida da Silva
Portal Pipa Balão
, 2024
Purpurina e mistura aglutinante | 86 x 42 cm
Almeida da Silva
Portal Corpo de Moça
, 2024
Purpurina,mistura aglutinante e miçangas | 100 x 40 cm
Brenda Cantanhede
Série "não eh pintura"
, 2023
Óleo, massa acrílica e tecido sobre madeira | 12 x 22 cm
Juca Rivera
Móbile inseto
, 2025
Materiais diversos | 175 x 180 cm (diâmetro máximo)
Ju Morais
Cacos I
, 2025
Madeira usada, costura e crochê de arame | 147 x 105 cm